O parque icnológico de Penha Garcia, no vale do Ponsul, vai ser classificado como imóvel de interesse municipal. A proposta será apresentada esta sexta-feira em sessão da Câmara de Idanha-a-Nova para aprovação.

Este é o primeiro passo para fazer do vale do Ponsul - onde estão identificados icnofósseis (marcas da actividade de organismos marinhos) com cerca de 480 milhões de anos - o primeiro geoparque do país, que se juntará a outros criados na Alemanha, França, Grécia e na vizinha Espanha. Uma figura prevista pela UNESCO, no âmbito da protecção do património e, que passa pela definição de um território que dispõe de um património geológico bastante significativo e no qual se deve desenvolver um conjunto de projectos de inventariação, preservação e divulgação dessa riqueza.

A aposta na candidatura do vale do Ponsul a geoparque valeu à autarquia de Idanha-a-Nova o prémio Geoconservação 2004, atribuído pelo grupo português da Progeo, a associação europeia para a conservação do património geológico. A distinção, criada este ano, é entregue hoje, às 15h00, no Centro Cultural Raiano, à Câmara Municipal de Idanha-a-Nova.

Segundo o autor do pré-projecto do geoparque da Meseta Meridional, Carlos Neto de Carvalho, membro do Centro de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, "a diversidade de comportamentos patentes nas cruziana [icnofósseis], a dimensão ímpar atingida por algumas estruturas e a preservação delicada" são alguns dos factores que, tornam o vale do Ponsul "um parque icnológico único".

A classificação de carácter municipal que, segundo o vereador da Câmara de Idanha-a-Nova, Armindo Jacinto, "em princípio será aprovada", é também a primeira protecção atribuída aos icnofósseis de Penha Garcia que, no passado, foram alvo de saques. Os guardiões das "cobras pintadas", como a população local se referia aos icnofósseis, devido à sua forma, eram os próprios moradores da aldeia, sempre atentos a quem descia o vale e, mais recentemente, um funcionário contratado para o efeito. Os visitantes deste património paleontológico, ignoravam o aviso "é proibido danificar os fósseis" e extraíam das fragas de xisto e quartzito do vale do Ponsul painéis raros acabando por os destruir.

Em declarações ao PÚBLICO, Armindo Jacinto adiantou ainda que, no próximo mês a autarquia deverá requer ao Instituto de Conservação da Natureza para esta jazida a classificação de monumento natural. "São fases importantes para que a candidatura à UNESCO tenha fundamento", enfatizou o autarca.

De acordo com o pré-projecto a que o PÚBLICO teve acesso, em Janeiro deste ano, além dos icnofósseis da aldeia de Penha Garcia (concelho de Idanha-a-Nova) que serão a imagem de marca, o geoparque da Meseta Meridional abrange os concelhos de Castelo Branco, Vila Velha de Ródão, Proença-a-Nova, Nisa e Oleiros (municípios que integram a NaturTejo) e aponta, a par da necessidade de compilar aspectos geológicos importantes e projectar os recursos, a criação de museus e exomuseus (musealização no local) como meios para explorar e dinamizar toda a riqueza da região.

A candidatura à UNESCO deverá ser apresentada até ao final do ano.