Câmara do Porto propõe visitas guiadas ao património mais antigo da cidade

Notícia publicada no jornal O Primeiro de Janeiro a 3/Março/2005 | 3/3/2021
Para explicar o que é um gnaisse e sobretudo para que os portuenses olhem com outra atenção para as rochas enrugadas que se encontram na costa marítima da Foz do Douro, a autarquia vai organizar percursos geológicos. As paragens são feitas em rochas com 590 milhões de anos.
Ana Magalhães
A Câmara Municipal do Porto está a preparar visitas guiadas ao complexo de gnaisses da Foz do Douro. Para uns são rochas que estão na praia, e que servem de mero encosto, mas para a comunidade científica da cidade são um património com 590 milhões de anos que está subvalorizado. “É uma herança da história geológica do país e do continente euro-asiático, mas que a cidade não tem sabido dar o verdadeiro valor”, explicou ontem Fernando Noronha, director do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, a aproveitar a presença no seu departamento do vice-presidente da autarquia, Paulo Morais. Além das visitas organizadas pela Faculdade de Ciências para os universitários, a partir de Abril a autarquia vai propor um percurso geológico desde o Castelo do Queijo à praia dos Ingleses para divulgar a importância dos gnaisses, rochas enrugadas resultado do choque de duas placas continentais há milhões de anos. Para Fernando Noronha, o património único justifica-se com a teoria da deriva dos continentes, segundo a qual o complexo de rochas da Foz do Douro surgiu após o fecho do oceano Atlântico. Falando em milhões de anos, o geólogo segue a mesma teoria para prever a colisão entre o continente africano e o europeu com o fecho do mar Mediterrâneo. Para explicar o que só fica totalmente esclarecido com recurso a desenhos, o percurso geológico que a autarquia está a preparar prevê a colocação de painéis ao longo das praias, que servirão de ponto de partida à explicação que será dada por geólogos. Estas aulas improvisadas vão ser abertas a todos os portuenses, mas está prevista uma divulgação maior nas escolas do concelho. A mostrar que os passos estão a ser dados para uma valorização maior deste património natural, a Câmara requereu ao Instituto de Conservação da Natureza a classificação do complexo rochoso como património nacional. A par disso, a autarquia candidatou-se ao prémio Geoconservação 2005, atribuído pela Associação Europeia para a Conservação do Património Geológico. O objectivo é premiar a autarquia que se distinga pela adopção de medidas de conservação e valorização do património geológico no seu concelho. Pela avaliação feita por Fernando Noronha, o trabalho maior tem sido feito no estrangeiro, nomeadamente na Gronelândia e Islândia, onde se localizam os gnaisses mais antigos.